quarta-feira, 18 de maio de 2011

Desafio para o futuro: globalizar justiça social


Congresso em Roma sobre a “Mater et Magistra” e a “Caritas in veritate”
ROMA, quarta-feira, 18 de maio de 2011 (ZENIT.org) - Em um mundo globalizado, é necessário globalizar também a justiça social, quando se pretende dar uma resposta às novas situações. Além disso, é necessário respeitar novas regras, como evitar a concorrência desleal entre países e criar sistemas de segurança social nos países destinatários da deslocalização.

Estes são alguns dos temas abordados no segundo dia do congresso internacional organizado pelo Conselho Pontifício "Justiça e Paz", que estará sendo realizado em Roma até amanhã, por ocasião dos 50 anos da encíclica Mater et Magistra.

Nesse segundo dia, trabalhou-se por áreas continentais: África, América, Ásia e Europa, sobre temas precisos, como a sociedade do trabalho e o bem comum, estilos de vida, o paradigma do desenvolvimento, a pluralidade de empresas e a dignidade dos direitos dos trabalhadores.

Mas também se falou sobre o trabalho, a avaliação e remuneração, as políticas sociais, a subsidiariedade e a justiça social. Também foram importantes temas como a terra como ambiente de vida, condições climáticas, recursos materiais, desenvolvimento integral, demografia e bioética.

Antes da Missa conclusiva, Dom Mario Toso, secretário do Conselho Pontifício "Justiça e Paz", aprofundou nos problemas dos desequilíbrios tradicionais que voltam a se apresentar hoje e como resolvê-los: o ponto central continua sendo a justiça social no contexto de um mundo globalizado.

Para instituir uma justiça social global, indicou Dom Toso, "é necessário que a democracia globalizada seja sustentada por um ethos aberto à transcendência, incentivado pela fraternidade e pela lógica do dom", apoiado "no quadro jurídico e ético seguro, isto é, nos direitos e deveres arraigados na lei moral universal e não no livre arbítrio".

Dom Toso recordou que a Caritas in veritate "nos convida a praticar a justiça dentro dos desequilíbrios que hoje se acrescentam aos tradicionais".

"Um dos caminhos indicados por Bento XVI - prosseguiu - é o renascimento do pensamento moral; depois, é necessária uma reflexão sobre a unicidade da economia mundial, e sobre a globalização da economia social", assim como a universalização de "uma democracia substancial, social e participativa".

Deslocalização

Assim como a Mater et Magistra, há 50 anos, falava de uma remuneração equitativa, hoje existe "a exigência do bem comum no âmbito mundial" e, portanto, há outros parâmetros, como o de "evitar uma concorrência desleal entre as economias dos diversos países; favorecer a colaboração entre as economias nacionais, com acordos fecundos, e cooperar no desenvolvimento das comunidades política e economicamente menos avançadas".

Um ponto central é que "hoje, frente à liberalização dos mercados, da deslocalização de muitas empresas, quando se pretende realizar o desenvolvimento integral e harmônico, não se devem destruir ou considerar supérfluos os direitos sociais".

E, dado que "os direitos trabalhistas não podem se separar dos demais direitos civis e políticos, é necessário contribuir para realizar estes também onde se deslocalizam as empresas. Os sistemas de proteção e de segurança social - como diz a Caritas in veritate - devem ser reformados nos países mais ricos, em sentido societário e participativo. Assim, poupam-se energias e se pode ajudar os países mais pobres".

Uma só doutrina social

Por sua vez, o cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa e presidente da Cáritas Internacional, insistiu também na importância de uma unicidade dentro da própria doutrina social da Igreja.

"Não existe - explicou o purpurado - uma doutrina social da Igreja diferente em cada parte do mundo. Se a pessoa mora na América Latina, África ou Europa, os princípios da doutrina social que se aplicam às diversas realidades são sempre os mesmos. Não há uma forma de solidariedade ou de subsidiariedade para um continente diferente do outro."

Isso não elimina, no entanto, que "a realidade sobre a qual se aplicam os princípios da doutrina social seja uma realidade local. É a situação social, cultural, econômica e política que cada comunidade eclesial vive".

Recordou que "um papa escreve uma encíclica não só porque considera importante falar de um tema social atual. Ele recebe contribuições de bispos, que, por sua vez, são motivados pelas contribuições dos fiéis leigos".

Trata-se, portanto, de um processo "contínuo e dinâmico. Evidentemente, a doutrina fundamental não muda: a Sagrada Escritura continua sendo a base da nossa fé; e os princípios que se deduzem para a ação - como o bem comum, a solidariedade e o destino universal dos bens - são para todos".

Concluindo sua intervenção, o cardeal Rodríguez Maradiaga recordou que uma dimensão construtiva da pregação do Evangelho é "a ação a favor da justiça e da participação na transformação do mundo".

Papa incentiva “nova evangelização do social”


Audiência com participantes do congresso pelos 50 anos da “Mater et Magistra”

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 17 de maio de 2011 (ZENIT.org) - É necessária hoje, no mundo da globalização, uma nova evangelização do social, que ofereça luz para os desafios e exigências da justiça e do bem comum, afirmou ontem o Papa Bento XVI.

O Pontífice recebeu, em audiência, os participantes de um congresso internacional promovido pelo Conselho Pontifício "Justiça e Paz", no 50º aniversário da encíclica Mater et Magistra, de João XXIII, que está sendo realizado em Roma.

Esta encíclica de João XXIII, sublinhou, "conserva grande atualidade, também no mundo globalizado".

"O Papa Roncalli, com uma visão de Igreja colocada ao serviço da família humana sobretudo mediante sua específica missão evangelizadora, pensou na doutrina social - antecipando o Beato João Paulo II - como um elemento essencial para esta missão, por ser parte integrante da concepção cristã da vida."

Para João XXIII, a doutrina social da Igreja "tem a Verdade como luz, o Amor como força propulsora, a Justiça como objetivo", elementos que o Papa Bento XVI retoma da Caritas in veritate.

"A verdade, o amor e a justiça, indicados pela Mater et Magistra, junto ao princípio do destino universal dos bens, como critérios fundamentais para superar os desequilíbrios sociais e culturais, continuam sendo os pilares para interpretar e buscar solucionar também os desequilíbrios internos da globalização atual", observou o Papa.

Novos desafios

O Pontífice alertou que hoje as finanças, "após uma fase mais aguda da crise, voltaram a praticar com frenesi contratos de crédito que frequentemente permitem uma especulação sem limites".

Estão ocorrendo também "fenômenos de especulação daninha com referência aos produtos alimentícios, a água, a terra, acabando por empobrecer ainda mais aqueles que já vivem em situações de grave precariedade".

Também sublinhou "o aumento dos preços dos recursos energéticos primários, com a conseguinte busca de energias alternativas, guiadas, às vezes, por interesses exclusivamente econômicos de curto prazo", que "acabam por ter consequências negativas sobre o meio ambiente, além de sobre o próprio homem".

A questão social, prosseguiu, "é, sem dúvida, uma questão de justiça social mundial", de "distribuição equitativa dos recursos materiais e imateriais" e de "globalização da democracia substancial, social e participativa".

Por isso, "em um contexto em que se vive uma progressiva unificação da humanidade, é indispensável que a nova evangelização do social evidencie as implicações de uma justiça que deve ser realizada universalmente".

Esta justiça, destacou, não pode ser alcançada "apoiando-se no mero consenso social, sem reconhecer que este, para ser duradouro, deve estar arraigado no bem humano universal".

Além disso, "deve levar-se a cabo na sociedade civil, na economia de mercado, mas também por parte de uma autoridade política honrada e transparente proporcional a ela, também no âmbito internacional".

Nova evangelização social

Frente a estes desequilíbrios, é necessário "restabelecer uma razão integral que faça renascer o pensamento e a ética".

"Sem um pensamento moral que supere a apresentação das éticas seculares, como as neoutilitaristas e neocontratualistas, que se fundam em um substancioso ceticismo e em uma visão prevalentemente imanentista da história, torna-se árduo para o homem de hoje aceder ao conhecimento do verdadeiro bem humano."

Assim, acrescentou, "é necessário desenvolver sínteses culturais humanistas abertas à Transcendência, mediante uma nova evangelização - arraigada na lei nova do Evangelho, a lei do Espírito".

"Somente em comunhão pessoal com o Novo Adão - Jesus Cristo -, a razão humana é curada e potencializada, e é possível chegar a uma visão mais adequada do desenvolvimento, da economia e da política, segundo sua dimensão antropológica e as novas condições históricas."

Além disso, é necessária uma razão "restabelecida em sua capacidade especulativa e prática", para dispor "critérios fundamentais para superar os desequilíbrios globais, à luz do bem comum".

Para o Papa, de fato, "sem o conhecimento do verdadeiro bem humano, a caridade se desliza rumo ao sentimentalismo; a justiça perde sua ‘medida' fundamental; o princípio do destino universal dos bens é deslegitimado".

Na Mater et Magistra, João XXIII recordava que "é possível captar melhor as exigências fundamentais da justiça quando se vive como filhos da luz", afirmou Bento XVI, sublinhando a necessidade de "uma nova evangelização do social e do testemunho da vida nova segundo o Evangelho".

sábado, 14 de maio de 2011

Mais desenvolvimento para resolver conflitos no Norte de África


ROMA, sexta-feira, 13 de maio de 2011 (ZENIT.org) - Vendo como se movem os rebeldes na Líbia, a pergunta é: "E depois, o que virá?". Isso não quer dizer que "vamos dar-lhes armas e que resolvam o seu problema", porque, "para resolver determinadas situações de conflito e injustiça, são necessários instrumentos muito diferentes em relação aos que temos agora". É necessário "superar a resposta imediata e trabalhar nas bases do desenvolvimento".
Estes são alguns dos pensamentos apresentados por Dom Mario Toso, durante a conferência de imprensa de apresentação, na sede do Conselho Pontifício "Justiça e Paz" - do qual ele é secretário -, do Congresso por ocasião do 50º aniversário da encíclica Mater et Magistra.
"A doutrina social da Igreja aborda o uso de instrumentos de paz: esta é a direção que a Igreja oferece a todos, aos leigos, aos líderes dos Estados. A estes últimos cabe avaliar quais são os instrumentos de paz e se são eficazes para alcançá-la", disse ele.
Com grande sinceridade, Dom Toso disse que a Igreja, como muitos, foi apanhada de surpresa pelos acontecimentos do Norte de África: "Quem poderia esperar que houvesse uma intervenção de alguns países europeus mesmo antes de uma resolução da ONU?".
"Nem sempre há tempo suficiente para analisar, refletir e para sair com pronunciamentos ponderados. Diante dos acontecimentos, uma declaração pode acabar sendo tardia, mas tampouco pode ser apressada."
Aprofundando-se neste ponto, afirmou que "não é tarefa da Igreja fazer pronunciamentos políticos". Ele lembrou que "a honra da Igreja e sua força é pregar Cristo, agir no nível das consciências, no âmbito pedagógico. E depois, a sua força se expressa através de leigos bem treinados, servindo em alguns lugares, nos parlamentos, para abordar estas questões. Há pessoas bem preparadas, mas às vezes se comprova que prevalecem as menos experientes".
Não se pode esquecer também de que existe a exigência de um clima político diferente. "Se muitos fogem dessa situação, não é por espírito de aventura, mas por necessidade, porque não se respeitam os direitos fundamentais, porque não há liberdade nem oportunidades de trabalho, nem tampouco possibilidades de participação."
Na Líbia, acrescentou que é necessário trabalhar em profundidade, e os meios de comunicação têm essa tarefa. Ajudar as pessoas a refletir sobre os compromissos para além da resposta imediata. "É preciso trabalhar nas bases do desenvolvimento."
Quanto às ondas massivas de imigrantes, disse que necessária "uma cooperação séria com os Estados mais pobres. A Gaudium et spes já dizia que é preciso ajudar os pobres a resolver seus próprios problemas".
"Por que vários movimentos não estão associados e não dão respostas, como buscar financiamento ou bolsas de estudo para formar os futuros líderes desses países?", concluiu Dom Toso.