quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sudão: da transição à reconciliação


Mensagem dos bispos ao país
JUBA, quarta-feira, 28 de julho de 2010 (ZENIT.org) – A Conferência Episcopal do Sudão publicou uma mensagem de esperança e exortação à concórdia nacional, ao término de sua reunião plenária, em Juba.
O Sudão, manchado de sangue por um conflito que durou vinte anos, vive atualmente uma situação política e social de estabilidade precária, após as eleições do mês de abril, que confirmaram no poder o presidente Omar el Bashir e o presidente do Governo autónomo do Sudão do Sul, Salva Kiir, informou nesse domingo o jornal vaticano L’Osservatore Romano.
Em janeiro de 2005, em Nairobi, Quénia, foi firmado um acordo de paz (Comprehensive Peace Agreement) entre o Governo central e o Exército Popular de Liberação do Sudão (SPLA), que reconheceu o Governo autónomo do Sudão do Sul, com a previsão de um referendo para a proclamação de Independência.
Além disso, entre o Governo central e o SPLA, foi acordada a subdivisão dos lucros produzidos pelos ricas jazidas de petróleo no centro-sul do país. O Sudão conta com cerca de quarenta milhões de habitantes, dos quais 80% são muçulmanos e 17%, cristãos.
Agora os olhos do país e dos observadores internacionais apontam outro ponto fundamental até a democratização: o referendo, previsto para janeiro de 2011, que poderia, em caso de resultado positivo, permitir à região autónoma do Sudão do Sul ter sua independência.
Sobre o referendo, os bispos convidam todo o país a um forte compromisso, para que o processo de consulta possa ser realizado “de forma transparente e frutífera”. Os prelados afirmam que a Igreja está constantemente presente “no trabalho de construção da paz e reconciliação, em colaboração com as outras partes e na linha de uma doutrina social da Igreja”.
“Após séculos de opressão e de exploração, após decénios de guerra e violência que marcaram e feriram as vidas de muitas pessoas no sul e no norte do Sudão, sem nenhum respeito pela vida e pela dignidade; agora, a cinco anos da firma do Comprehensive Peace Agreement, alcançamos um ponto a partir do qual a mudança está próxima”, afirmam os bispos.
Qualquer que seja o resultado do referendo, especificam os prelados, as pessoas no poder estão convidadas a mudar suas mentalidades e a se esforçar pela pacífica convivência entre as diversas etnias.
Em especial, afirma-se a necessidade de que as autoridades do norte do Sudão “respeitem a liberdade e os direitos humanos, inclusive a liberdade de religião de todos os cidadãos” e que as autoridades do sul “tutelem os direitos das pessoas de outras regiões”.
Bento XVI, no discurso aos bispos do Sudão, em visita ad limina apostolorum, a 13 de março de 2010, destacou que, “se a paz implica estabelecer raízes profundas, temos de realizar esforços comuns para diminuir os fatores que contribuem com os conflitos, em especial a corrupção, as tensões éticas, a indiferença e o egoísmo.
(Nieves San Martín)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quénia: ante novo projeto de Constituição, Igreja defende a vida


O texto será submetido a referendo dia 4 de Agosto


Nairóbi, sexta-feira, 23 de Julho de 2010 (ZENIT.org) – A Igreja no Quénia continua defendendo a vida e lutando contra o aborto, especialmente diante do referendo sobre a Constituição previsto para 4 de agosto.
A Constituição proposta pode abrir portas para uma legislação mais liberal sobre o aborto, que atualmente é ilegal no país, assim como o reconhecimento de tribunais muçulmanos.
Nesse contexto, a Comissão Justiça e Paz organizou o encontro “O aborto e seus efeitos”, para informar sobre o projeto de Constituição e a postura da Igreja, no dia 11 de julho, na basílica da Sagrada Família de Nairóbi, segundo informações da agência CISA.
No encontro, o ginecologista Ngatia Njogu, do Kanyatta National Hospital, destacou a necessidade de que a Igreja mostre sua preocupação pelas questões relativas à vida humana.
No encontro, o professor Kihumbu Thairu, vice-chanceler da Universidade PCEA, também convidou a Igreja a continuar promovendo sua preocupação pelas questões relativas às implicações morais do projeto de Constituição para o povo do Quénia.

Governo americano
Três membros republicanos do Congresso dos Estados Unidos acusaram o governo Obama de utilizar dinheiro destinado à educação cívica no Quénia para apoiar o projeto de Constituição.
Segundo informou a agência Associated Press, uma investigação sobre os fundos de apoio do governo americano à reforma constitucional do Quénia mostram diversas subvenções de apoio ao “sim” na campanha do referendo.
A embaixada dos Estados Unidos no Quénia anunciou na sexta-feira que essas subvenções, precisamente nove, foram suspensas.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Festival Jota solidário com Darfur


“Beat for Peace” transmitido durante festival de Música em Paredes de Coura

Vídeo reúne participações de bateristas dos Pink Floyd, Police, Radiohead, entre outros


Lisboa, 21 de Julho - A Plataforma portuguesa Por Darfur (http://www.pordarfur.org/) associa-se ao Festival Jota de Paredes de Coura numa acção de sensibilização para o drama da população desta região sudanesa.

No recinto do Festival será exibido nos dias 23, 24 e 25 de Julho o vídeo "Uma batida pela paz" numa iniciativa da Plataforma por Darfur.

O vídeo, “Uma batida pela paz” (www.youtube.com/watch?v=jKH_u8zIMxI), integra-se na campanha internacional “Sudão 365" e conta com a participação dos bateristas Caroline Corr (The Corrs), Nick Mason (Pink Floyd), Stewart Copeland (Police), Phil Selway (Radiohead), Richard Jupp (Elbow) e Jonny Quinn (Snow Patrol).

O objectivo da campanha é mobilizar a comunidade internacional, nos próximos meses, e despertar os actores políticos e sociais para a pressão pela manutenção da paz no Sudão e a criação dum clima livre para o referendo sobre a possível independência do Sul, onde está localizado o Darfur.

Darfur e o Sudão em geral, vivem este ano uma etapa decisiva. Após as eleições do mês de Abril que reconduziram o actual Presidente da República, Omar al-Basir, o Sudão prepara-se para a realização dum referendo no Sul do país, em Janeiro de 2011.

O acordo de paz selado em 2005, que pôs fim a uma guerra civil que durou 22 anos e vitimou mais de 2 milhões de pessoas, previa um referendo. Porém, o aumento da tensão na região, com conflitos tribais que causaram centenas de mortes, tem levado a comunidade internacional a temer a existência de fraudes e mesmo o eclodir de uma nova guerra civil.


A campanha porDarfur em Portugal é dinamizada, desde 2007, por uma plataforma constituída pela Amnistia Internacional Portugal, Associação Mãos Unidas Padre Damião, Comissão Justiça e Paz dos Religiosos, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, Fundação Gonçalo da Silveira, Missionários Combonianos e a Rede Fé e Justiça África-Europa.


Para mais informações:

WS/D&E – Rui Carvalho - 912307706

terça-feira, 20 de julho de 2010

África-Itália: cenários migratórios


Apresentado em Roma relatório da Cáritas sobre imigração
Por Chiara Santomiero

ROMA, terça-feira, 20 de julho de 2010 (ZENIT.org) - A distribuição desigual de riqueza coloca 90% das estruturas produtivas nas mãos de um sexto da população mundial, enquanto quase a metade da população do continente africano é subnutrida.
A região subsaariana, onde se concentra um oitavo da população mundial - mais de 800 milhões de pessoas - dispõe de apenas 2,1% da riqueza mundial, com uma renda per capita cerca de 20 vezes menor que a da União Europeia. A taxa de desemprego juvenil chega a 60%, e a agricultura permanece a atividade principal de cerca de 70% da população economicamente ativa.
Estes são alguns dos dados evidenciados pelo relatório da Cáritas/ Imigrantes "África-Itália: cenários migratórios", apresentado em Roma, em 16 de julho.
Mais de 60 autores contribuíram para a elaboração do texto, publicado com a contribuição do Fundo europeu para a Integração de Cidadãos de Países Terceiros. O relatório aborda a situação atual no continente africano e analisa os fluxos migratórios com a Itália, sintetizando os resultados de estudos conduzidos por diversas instituições de pesquisa italianas e africanas.
A iniciativa se insere no contexto das diretrizes formuladas durante a segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos de 2009.
Segundo o texto, "a imigração insere-se nas estratégias de sobrevivência adotadas por indivíduos e nas estratégias de apoio ao crescimento dos países africanos, evidenciando a inconsistência da tese de que ‘bastaria ajudá-los em sua própria casa'". O documento destaca ainda que, em 2009, a Itália destinou "menos de 0,2% de seu PIB para projetos de cooperação e desenvolvimento".
"Dos quase 5 milhões de africanos que vivem na UE - informa o relatório -, cerca de um quinto encontra-se na Itália". Os africanos representavam, em 2009, cerca de 22,4% do total de estrangeiros residindo na Itália.
As mulheres constituem 39,8% do total, mas com notáveis diferenças entre as comunidades de diferentes origens: 21% dos senegaleses, e 73% daqueles provenientes de Cabo Verde.
"De cada 10 imigrantes africanos, 7 são de origem norte-africana e quase cinco provêm de Marrocos", assinala ainda o relatório.
Mais de meio milhão de trabalhadores africanos estão inseridos no sistema produtivo italiano, especialmente nos setores de construção civil, agrícola e pesca, além do trabalho doméstico para as mulheres.
"Somos pessoas que vivem há muito tempo na Itália, e estamos destinados a viver aqui ainda por muitos anos", disse Stephen Stanley Okey Emejuru, do Fórum Intercultural da Cáritas diocesana de Roma, ao intervir durante a apresentação do relatório. "Esta ligação com a Itália exige espaços mais amplos de participação, porque sem participação não há cidadania", declarou.
"Desejamos poder ser ex-imigrantes para nos tornar novos cidadãos, especialmente para nossos filhos, nascidos na Itália e para os quais a Itália é sua terra natal, ainda que sejam de origem africana".
A presença africana na Itália está destinada a crescer. Para 2050, de acordo com as tendências atuais, estima-se uma presença de 12,3 milhões de estrangeiros, dos quais quase 3 milhões serão de origem africana.
"O êxodo dos africanos - adverte o documento da Cáritas - pode representar um fator de sucesso para os indivíduos protagonistas e de esperança para os respectivos países, desde que não se reduza a uma simples fuga de cérebros, e de que a ajuda financeira enviada pelos trabalhadores seja aplicada em iniciativas produtivas".
Nesta perspectiva, "o apoio à integração dos imigrantes africanos, com um quadro claro de direitos e deveres, representará uma contribuição para o crescimento do continente".
"A solidariedade - disse Vittorio Nozza, secretário da Cáritas italiana, no encerramento do evento - não se reduz a uma forma de compaixão; é, ao contrário, assumir a responsabilidade em prol do bem comum".
Os países em desenvolvimento devem ser acolhidos como parceiros, cooprotagonistas de seu futuro e do futuro da humanidade.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Primeiro congresso mundial de jornalistas católicos na África


Convocado pela União Católica Internacional de Imprensa (UCIP)
GENEBRA, sexta-feira, 16 de Julho de 2010 (ZENIT.org) – A União Católica Internacional de Imprensa (UCIP) anunciou que pela primeira vez realizará seu Congresso Mundial em um país da África. Será em Uagadugú, capital de Burkina Faso, de 12 a 19 de Setembro de 2010, e o seu tema central será “Os Média ao serviço da justiça, paz e boa governabilidade num mundo de desigualdades e pobreza”.
“Esta circunstância permitirá que o Congresso se converta numa ocasião extraordinária para entender a verdadeira vida na África e as suas diferentes realidades, não só de Burkina Faso, mas também de todo o continente”, explicam os seus organizadores.
“Num mundo onde a concentração dos meios de comunicação e o poder estão cada vez mais em poucas mãos, rara vez se tem a oportunidade de alcançar uma compreensão da África pelos próprios africanos”, acrescentam.
O congresso será uma grande oportunidade para que todos os participantes possam se reunir com especialistas e jornalistas que vêm de vários países da África.
No contexto deste Congresso Mundial da UCIP, irá realizar-se também a convenção mundial de jovens jornalistas, que começará a 12 de Setembro de 2010, como momento para que os jovens profissionais da comunicação, menores de 35 anos, possam reunir -se e partilhar as suas inquietudes e projetos.
Durante o congresso mundial realizar-se-á a entrega dos prémios internacionais de Comunicação e Jornalismo aos vencedores nas oito categorias existentes.
Na internet: http://www.ucip.ch/

domingo, 11 de julho de 2010

Sudão: cresce esperança de um futuro de paz


ROMA, domingo, 11 de julho de 2010 (ZENIT.org) - Segundo o bispo sudanês Dom Paride Taban, o povo de seu país está decidido a desempenhar seu papel no referendo previsto para janeiro de 2011, quando se decidirá sobre uma eventual independência em relação ao Sudão do Norte.
Falando à associação humanitária internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), o prelado demonstrou preocupação com a crescente instabilidade no Sudão após as eleições de abril.

Dom Taban afirmou que suas esperanças de um futuro de paz ganharam novo fôlego com os recentes comentários feitos por Salva Kiir, presidente do semi-autônomo Sudão do Sul, que disse não acreditar na possibilidade de um retorno à violência.

Referindo-se à fase de transição que se seguiu ao acordo de paz de 2005, assinado entre o norte e o sul do país, o bispo comentou que, "mesmo durante este período, as pessoas enfrentaram sérios desafios, mas não houve uma guerra de amplas proporções".

De qualquer forma, Dom Taban reconheceu que tudo dependerá do presidente Bashir respeitar os resultados de referendo.

"Se o que o presidente Bashir diz sobre o resultado do referendo for verdade, então será um bem, mas ainda não sabemos o que ocorrerá", disse o prelado.

"Deixemos que o povo decida. Não forcemos ninguém, seja numa direção ou outra. Ajudemos as pessoas a serem felizes", acrescentou.

"Não será fácil, mas devemos aprender a partilhar os recursos de que dispomos - inclusive o petróleo."

"O povo do sul pode ser de boa vontade, mas precisa do apoio da comunidade internacional - assinalou. Precisa ser reforçado, caso contrário muitos temerão um retorno à guerra", concluiu.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

África Ocidental: 10 milhões de pessoas sofrem com a fome


Cáritas adverte para a emergência; Níger é o mais atingido

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 7 de julho de 2010 (ZENIT.org) - A Cáritas Internacional adverte para a tragédia humanitária iminente na região do Sahel, na África ocidental, e pede medidas imediatas por parte da comunidade internacional em resposta à crise alimentar que se agrava a cada dia.
Segundo a organização, ao menos 10 milhões de pessoas na região sofrem com a fome. O Níger é o país mais duramente atingido, com 8 milhões de pessoas em risco, mas a situação é também grave no Chade, em Mali e em Burkina Faso.

O Níger sofre com uma redução de 50 milhões de dólares nos auxílios externos, o que deixa o país com apenas a metade do montante necessário para enfrentar o problema da fome.

O sistema de saúde do país está em colapso, com consequências devastadoras principalmente para as crianças, uma vez que os programas de tratamento da desnutrição são conduzidos pelos centros de saúde.

“Estamos diante de uma potencial emergência de sobrevivência das crianças no Níger”, afirmou Raymond Yoro, secretário geral da Cáritas Níger. “378 mil crianças estão sob risco de grave desnutrição aguda, enquanto outras 1,2 milhão estão expostas à desnutrição moderada”.

“O Níger enfrenta uma carência de alimentos pior que a registrada na última crise de 2005. A lição é a de que atrasos nos auxílios custam vidas. Apesar do alarme lançado em dezembro de 2009, os doadores são muito lentos em disponibilizar os fundos”.

“Ainda há tempo para se evitar uma tragédia”, advertiu Yoro.

“Os doadores devem oferecer imediatamente os recursos de que necessitam os governos da região e as agências humanitárias”. Da mesma forma, são necessários “sistemas de advertência prévia e programas de adaptação às mudanças climáticas, a fim de evitar crises futuras”.

Em maio passado, a Cáritas lançou um apelo para angariar 2,9 milhões de euros necessários para o fornecimento de auxílio alimentar, sementes e financiamento agrícola a 246 mil famílias, além de tratamento especial a 17 mil crianças e gestantes.

Após a crise de 2005, a Caritas Internacional instituiu o Grupo de Trabalho para o Sahel. Uma análise completa de seu plano de ação pode ser consultado em www.caritas.org.

domingo, 4 de julho de 2010

A Pastoral Social da Igreja num mundo adverso


Vivemos uma cultura centrada no indivíduo, na economia e no poder. O bem social e o transcendente são realidades marginais. Prioritário é produzir poder ou riqueza e consumir. O ideal de vida é a realização profissional e a progressão na carreira. Este objectivo sobrepõe-se, em muitos casos, aos critérios éticos, à ecologia da vida e do planeta, à realização familiar, às relações sociais e à vivência religiosa. O subjectivismo, o relativismo, a corrupção escondida, a injustiça e a mentira são algumas das facetas possíveis da vivência privada da pessoa que podem conviver lado a lado com a vida normal e cumpridora dum cidadão nos aspectos em que é controlado pela pressão social ou por normas jurídicas ou religiosas. Gera-se assim uma vida dupla, com critérios éticos diferentes: quando age em privado, impera a lei do “eu” e de tudo o que lhe convém; quando age controlado por uma autoridade exterior ou teme que venha a ser fiscalizado e descoberto, submete-se às normas da lei do Estado, da Igreja ou da organização onde está integrado. Num mundo globalizado e sem fronteiras, urbanizado e incógnito, tolerante e egoísta, torna-se cada mais difícil a regulação e o controle da transparência de pessoas, empresas e instituições. Daí a corrupção instalada, os cristãos não praticantes ou intermitentes, os escândalos revelados de pecados escondidos de políticos, empresários e cristãos.
A sociedade parece-se a um campo de batalha “civilizada” de indivíduos, empresas, partidos, clubes e igrejas que querem afirmar-se, vencendo os outros em lucros e poder. O emprego e o seu salário são o meio normal de realização, mas no fundo todos sonham ser ricos sem trabalho. Daí haver tantos adeptos dos jogos da sorte e da aparição na vitrina do poder ou dos MCS. A vitória a curto prazo sobrepõe-se à sustentabilidade a longo prazo. A actual crise económico-financeira resulta, principalmente, desta aposta no curto prazo e na ausência de ética nos meios utilizados.
A falta de referência ao transcendente e a dependência do sucesso leva a um grande vazio de sentido e a uma grande solidão. Para preencher este vazio recorre-se ao consumo continuado de produtos, de prazer e do mundo virtual (televisão, internet e droga). Esta vida não satisfaz por isso é preciso criar uma “second live” à medida dos nossos sonhos. É uma busca desesperada para descobrir fora o que não se encontra dentro. A emoção e o êxtase do momento ganham prioridade sobre sustentabilidade e a eternidade da felicidade. O sofrimento, o fracasso e a doença são uma ameaça a este ideal de vida e criam revolta e pânico.
Quem não produz nem tem capacidade para competir torna-se invisível e um peso para a sociedade. As crianças, os desempregados, os idosos, os doentes e os países subdesenvolvidos sentem-se e são marginalizados da engrenagem deste mundo. Assiste-se à diminuição da natalidade porque os filhos são vistos como um encargo. Aumenta o negócio de lares porque os doentes e idosos exigem presença e não há tempo para eles. Em tempos de crise económico-financeira, os países cortam nos apoios sociais e na ajuda aos países mais pobres, porque é preciso salvar o “meu” futuro e o “nosso” mercado.
Onde falta o amor e a abertura a Deus, o homem não compreende a linguagem da comunhão, do bem social, da defesa da vida, da solidariedade, da subsidiariedade, da gratuidade, da justiça e da caridade na verdade. A Doutrina Social da Igreja é uma ilustre desconhecida para uns e vista com suspeita por outros.
A recente visita do Papa a Portugal mostrou um povo acolhedor e com sentimentos cristãos. Bento XVI sentiu-se revigorado e fortalecido no seu ministério, após a campanha mundial que o tentou desacreditar porque quis enfrentar com verdade o problema da pedofilia na Igreja. Os MCS que antes colaboraram na campanha do contra, agora renderam-se à simplicidade e profundidade dum homem de Deus que peregrina a Fátima e visita o seu povo. O Papa deixou-nos uma mensagem densa e profunda. Animou-nos a fazer um verdadeiro encontro com Cristo, sacramento do Amor do Pai por nós. Desafiou-nos a ser uma Igreja missionária, capaz de fermentar a vida social e política e de anunciar a boa nova de Cristo a toda humanidade.
Os bispos portugueses compreenderam esta mensagem e, por isso, na assembleia extraordinária de 17 de Junho aprovaram a Carta Pastoral sobre o rosto missionário da Igreja e o Instrumento de trabalho que orientará o itinerário sinodal da Igreja em Portugal até Novembro de 2011.
Mas as pessoas não se convertem com documentos ou catequeses teóricas. Só o encontro com Cristo vivo poderá levar-nos a viver com horizontes de eternidade, a iniciar um seguimento marcado pela coerência de vida, a abrir-nos à comunhão e à celebração comunitária da fé, a sentir-nos irmãos, a promover a fraternidade entre todos, a comprometer-nos com a justiça e a ecologia. São «os corações os verdadeiros destinatários da actividade missionária do Povo de Deus» . Se evangelizados, podemos testemunhar o Evangelho da esperança em privado ou em público, e animarmos outros a viver o caminho alternativo que nos é proposto por Cristo. Neste sentido há muito que mudar na forma de estar na sociedade, na política e na Igreja para vivermos ao jeito de Jesus, segundo as moções libertadoras do Espírito.

José Augusto Duarte Leitão, svd
Responsável pela Antena AEFJN