sábado, 26 de junho de 2010

Reunião do G8/G20 deve liderar a luta contra crise alimentar


ROMA, sexta-feira, 25 de junho de 2010 (ZENIT.org) – Cáritas Internacional afirma que a reunião dos países do G8/G20 (25 a 27 de junho no Canadá) deverá oferecer uma nova liderança para enfrentar a crescente crise alimentar no mundo.
“Décadas de políticas econômicas e agrícolas desorientadas chegaram a ser algo muito difícil de suportar para os agricultores e pessoas de todo mundo. Registra-se um recorde de milhões de pessoas que sofrem atualmente de fome crônica. Uma em cada sete pessoas não tem comida necessária para uma vida básica”, afirma Cáritas Internacional em comunicado.

Segundo a organização, “os grupos G8 e G20 devem mudar as políticas de alimentação global, apoiando uma agricultura em pequena escala, sustentável, nos países em vias de desenvolvimento, em lugar da agricultura industrial”.

O diretor executivo de Desenvolvimento e Paz de Cáritas Canadá, Machael Casey, disse que “diante da fome em muitas partes do mundo, Cáritas acredita que as políticas agrícolas devam promover o pequeno agricultor e a produção de alimentos local”.

“Os países do G8 e G20 devem demonstrar a liderança necessária para mudar as desastrosas políticas alimentares do passado. Devem também assumir compromissos de ajuda. Necessitamos de mais ajuda, melhor empregada. Necessitamos também de ver uma ação efetiva a respeito da mudança climática”, acrescentou Casey.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Níger: crise alimentar afeta milhões de pessoas


MADRID, quinta-feira, 24 de junho de 2010 (ZENIT.org) - A rede internacional de Cáritas deu voz de alerta diante da grave emergência alimentar que é registada novamente na região do Sahel Ocidental, que está à beira de uma tragédia humana devido à grave escassez de alimentos.
Nesta semana, foi estimado que ao menos dez milhões de pessoas passam fome em vários países da África Subsaariana. Embora Níger seja o país mais afetado, com 8 milhões de pessoas em risco, Chade, Mali e Burkina Faso também enfrentam uma grande escassez de alimentos.
Níger dispõe neste momento da metade das reservas necessárias para alimentar a população vítima da escassez. Até agora, foram conseguidos 47 mil toneladas de ajuda alimentar, das 85 mil solicitadas pelas autoridades do país.
Da mesma forma, o sistema gratuito de saúde pública de Níger está quase falido, o que teria consequências devastadoras para as crianças, já que os programas para o tratamento da desnutrição são desenvolvidos por meio de centros de saúde.
Como alertou Raymond Yoro, secretário-geral da Cáritas Níger, "estamos enfrentando uma possível emergência de sobrevivência infantil, já que 378 mil crianças se encontram em grande risco de padecer de desnutrição e 1,2 milhão está em risco de desnutrição moderada".
A Cáritas Internacional destacou que Níger enfrenta uma escassez de alimentos até mesmo mais grave que a vivida durante 2005. Então, recordam os responsáveis da Cáritas, "a lição que aprendemos foi que os atrasos na mobilização da ajuda custam vidas".
Diante desta situação, a Cáritas Internacional redobrou sua petição de ajuda a todas as Cáritas doadoras do mundo, com objetivo de cobrir as necessidades do pedido de emergência lançado no mês passado para coletar os 2,9 milhões de euros necessários para financiar uma operação humanitária urgente em Níger.
Este programa de emergência, ao qual a Cáritas Espanha vai apoiar com 150 mil euros, contempla a distribuição de ajuda alimentar a 1,5 milhão de pessoas especialmente vulneráveis, além do desenvolvimento de projetos de "dinheiro por trabalho" e de distribuição de sementes, assim como planos de atenção prioritária para 17 mil crianças, mulheres grávidas e mães de primeira viagem.
Este programa de emergência vai ser desenvolvido em Tillabery, Agades, Rahoua e Zinder, as regiões de Níger onde o déficit alimentício afeta 35% da população.
A irregularidade das chuvas, as colheitas ruins, o aumento nos preços dos alimentos e a pobreza crónica contribuíram para o aumento da crise alimentícia em 2010. As pessoas estão enfrentando uma severa escassez de alimentos há seis meses. Agora dependem de meios extremos de adaptação, que incluem vender seu gado, comer alimentos silvestres, tirar seus filhos das escolas e abandonar suas casas em busca de alimentos.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sudão: bispo Taban convida a confiar na paz


Palavras de alento ante o referendo sobre a independência do sul


CARTUM, quarta-feira, 23 de junho de 2010 (ZENIT.org) – “O Sudão não retornará à guerra nem hoje nem após o referendo que determinará o futuro dos sudaneses do sul”.
O bispo emérito de Torit, Dom Paride Taban, convidou a população do sul do Sudão a permanecer unida e atuar pela paz em vista do referendo de Janeiro de 2011.
Com esta votação, a população local está convidada a decidir se o sul do Sudão se converte em um estado independente ou permanece unido ao resto do país, informou a agência Fides.
Dom Taban reuniu-se recentemente, acompanhado por alguns sacerdotes, com o novo governador do estado de Equatoria oriental (Sudão meridional), Louis Lobong.
O governador garantiu os esforços de sua administração para colaborar com a Igreja para ajudar a população a superar o difícil momento que está vivendo.
Do sul do Sudão continuam chegando notícias de confronto e proclamações ameaçadoras por parte do líder de uma facção rebelde do SPLA (Sudan’s People Liberation Army), o ex-movimento de guerrilha que, após os acordos de paz de 2005, governa o sul do Sudão.
Outra área de crise é a de Abyei, no limite entre Sudão do norte e do sul, cuja população será chamada a votar num referendo diferente ao do Sudão meridional, para decidir se seu território fará parte da zona setentrional ou da zona meridional do país.
Abyei possui ricos jazidos de petróleo; se pertencer ao Sudão meridional, incrementará o potencial petrolífero do sul, de modo que no caso de independência da zona meridional, o norte perderia a sua mais importante fonte de recursos.
A visão política islâmica do presidente Omar al Bashir vai contra a região semi-autónoma do sul do Sudão, que alguns esperam que possa ser independente.
A Igreja desempenha uma importante função na reconciliação no Sudão após os horrores experimentados nos últimos 25 anos de guerra civil norte-sul, que causou a morte de um milhão e meio de pessoas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

DIA DA CRIANÇA AFRICANA



Este dia estabeleceu-se a partir de uma marcha que teve lugar em 1976, quando milhares de meninos e meninas de raça negra em idade escolar, saíram às ruas de Soweto, África do Sul, para protestar porque a sua educação era de qualidade inferior, e também para exigir o cumprimento do seu direito a receber educação na sua própria língua.

domingo, 13 de junho de 2010

Congo: ex-meninos-soldados necessitam de esperança


ROMA, sexta-feira, 11 de junho de 2010 (ZENIT.org) – Na República Democrática do Congo, os ex-meninos-soldados necessitam urgentemente de ajuda para superar os traumas de guerra e poderem voltar a viver uma vida normal.
A associação humanitária internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) está promovendo uma iniciativa de amplo alcance neste sentido, oferecendo auxílio a mais de mil refugiados que escaparam da milícia rebelde Exército de Resistência do Senhor (Lord's Resistance Army, LRA), com base em Uganda, que, em seus ataques à província de Haut-Uélé, no nordeste do país, destruiu povoados inteiros, sequestrando os meninos e matando de forma indiscriminada.
Segundo o bispo Julien Andavo Mbia, de Isiro-Niangara, responsável por supervisionar os esforços em favor dos refugiados, os meninos sequestrados estão sob sério risco.
“Os meninos são treinados para o combate, enquanto as meninas são obrigadas a se tornar escravas sexuais”, denunciou o prelado.
O programa do bispo Mbia prevê, além do fornecimento de comida e peças de vestuário aos sobreviventes dos ataques, o atendimento médico dos feridos – algumas das vítimas tiveram os lábios e as orelhas arrancados.
Segundo a organização internacional Médicos sem Fronteiras, são comuns os relatos de meninos obrigados a matar os próprios pais.
“É difícil imaginar a crueldade destes meninos, drogados para serem capazes de matar os próprios familiares. Aqueles que oferecem resistência são mortos diante dos demais”, conta Christine du Coudray Wiehe, especialista em África da AIS.
Segundo o missionário comboniano padre Romano Segalini, as crianças e os jovens “estão traumatizados, e muitos deles estão gravemente doentes”.
“Passaram através do inferno, mas agora estão connosco e queremos ajudá-los a encontrar nova esperança”, acrescentou o sacerdote, que presta assistência a 22 ex-meninos-soldados na fronteira com Uganda.
“Muitos deles foram feridos; nos mostraram suas cicatrizes, resultado das violências a que foram submetidos. As meninas foram todas violentadas”, afirmou.
AIS apoia a Igreja nesta região sofrida custeando também a formação de 47 seminaristas junto ao seminário maior de S. Mbaga Tuzine em Murhesa.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

África do Sul: “Mundial de Futebol pela Paz”


PRETÓRIA, sexta-feira, 11 de junho de 2010 (ZENIT.org).- Cáritas Internacional e Damietta Peace Initiative dos Religiosos Franciscanos organizaram na África do Sul, entre as comunidades mais pobres do país, a Copa de Futebol pela Paz, um campeonato alternativo que acontecerá de forma simultânea ao Mundial de Futebol.
Esta iniciativa conjunta de caráter interconfessional - informa a Conferência Episcopal Católica da África do Sul -, que acontecerá na localidade de Atteridgeville, próximo de Pretória, reunirá pessoas de diferentes religiões, raças e nacionalidades.
“A África do Sul era uma nação destruída pela violência xenófoba e muitas pessoas afirmam que, sob as aparências, ainda estão tensões. Por este motivo, aproveitando a oportunidade do Mundial, queremos oferecer ao mundo uma mensagem de tolerância”, destacou Lancelot Thomas, coordenador local de Damietta Peace Initiative na África do Sul.
“Enquanto no Mundial as seleções nacionais se enfrentam umas contra as outras, nós, em nosso campeonato, queremos que nossas equipes experimentem a amizade e a humanidade comum das equipes mistas. Todas as equipes que participam têm base na África do Sul, mas representam vários grupos de refugiados. O critério principal para poder jogar é ter equipas formadas por jogadores de diversas nacionalidades”, acrescentou Thomas.
“A Copa de Futebol pela Paz - explica - segue a ideia de alguns grupos de paz que impulsionamos na Nigéria, após a etapa de violência religiosa que esse país viveu em 2008. Nesse caso, a ideia consistiu em mesclar muçulmanos, cristãos e animistas na mesma equipe, para comprovar o que significa ter um companheiro de equipe que, por sua nacionalidade ou crença, estava sendo considerado inimigo. Foi um grande êxito.”
“Toda África do Sul e o mundo estão sob a febre do futebol. Ainda que as equipes compitam umas com as outras, esperamos que a paz e a construção de relações interculturais sejam as vencedoras do dia”, concluiu Thomas.
Cáritas leva muitos anos trabalhando na construção da paz na África do Sul. Após o surto de violência contra os imigrantes, em maio de 2008, Dimietta Peace Initiative e Caritas uniram suas forças para impulsionar grupos de paz em todo país, promovendo a reconciliação e a não-violência, concentrando-se especialmente nas comunidades de base.
Na internet: http://www.churchontheball.com/

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Congo: assassinado defensor dos direitos humanos


Floribert Chebeya era diretor da ONG “A Voz dos que não têm voz


KINSHASA, terça-feira, 8 de junho de 2010 (ZENIT.org). - Floribert Chebeya, diretor executivo da ONG “A Voz dos que não têm voz” (VSV), foi encontrado morto, junto a um motorista da organização, em Kinshasa, República Democrática do Congo.
Floribert Chebeya Bahizire, de 47 anos, desapareceu com o motorista Fidèle Bazana Edadi na noite de 1º de junho, quando se dirigiam para uma reunião na Sede da Inspetoria Geral de Polícia, onde se encontrariam com o inspetor-chefe, o general John Numbi.
Chebeya não chegou e se encontrar com o inspetor e, pouco antes das 20 horas, informou sua família, por meio de uma mensagem de texto via celular, que estaria regressando à cidade, e não foi mais visto.
O corpo de Chebeya foi encontrado na noite de 2 para 3 de junho, no banco de trás de seu automóvel, abandonado à beira de uma rodovia à oeste de Kinshasa. Estava com as mãos amarradas às costas e as calças arriadas até os joelhos. O corpo de Edadi, seu motorista, foi encontrado no dia seguinte, em outra área nos arredores da cidade.
Destacado defensor dos direitos humanos e vítima de constantes ameaças ao longo dos anos, Floribert Chebeya participou da I Plataforma de Dublin para os defensores dos direitos humanos, em janeiro de 2002.
As circunstâncias da morte ainda não estão claras. “O fato de ter sido convocado pelo inspetor-chefe da polícia nacional sugere que Chebeya tinha um assunto muito delicado para discutir. Sabemos que Chebeya pretendia apresentar um relatório sobre as condições dos presídios locais”, disse à agência Fides o padre Loris Cattani, missionário xaveriano.
“Floribert Chebeya era um dos ativistas mais comprometidos com a causa dos direitos humanos, e vinha recebendo ameaças há algum tempo”, acrescentou.
“Há cerca de um ano, Chebeya foi preso pelas autoridades congolesas por protestar contra um contrato firmado entre a República Democrática do Congo e uma importante multinacional francesa, visando à exploração de minas de urânio em Katanga”, contou padre Cattani.
“Chebeya criticava o contrato porque a empresa, a seu ver, era responsável por graves violações dos direitos humanos e já havia causado enormes danos ambientais em outros países, especialmente no Níger”, disse ainda.
Em um comunicado oficial, a Conferência Episcopal Congolesa “condena energicamente o cruel assassinato de uma pessoa cuja vida havia sido generosamente dedicada à defesa dos direitos humanos em nosso país”, exigindo uma investigação “credível” para identificar os responsáveis e levá-los à justiça. “Porque é inconcebível a construção de um Estado democrático afogando a voz daqueles que defendem os direitos humanos”, completam os prelados.
A ONU e a União Europeia, por sua vez, pediram ao governo congolês “uma investigação independente e imparcial” sobre as mortes.

domingo, 6 de junho de 2010

Zâmbia, nação “cristã”?


Entrevista com Dom Telesphore Mpundu, pastor católico de Lusaka

LUSAKA, domingo, 6 de junho de 2010 (ZENIT.org).- A Zâmbia pode ser considerada uma nação cristã, mas ainda há muito a fazer para que a fé se converta em estilo de vida para os crentes católicos, de acordo com o arcebispo Telesphore Mpundu.
O prelado de Lusaka reflete nesta entrevista sobre o porquê de ser errôneo que a Zâmbia seja considerada oficialmente cristã e as razões para a esperança em seu país.

--Excelência, em 1991, o então presidente Chiluba declarou que a Zâmbia era oficialmente uma nação cristã e cada governo, desde aquele tempo, reafirmou esta fidelidade a Deus. Pode-se dizer que a Zâmbia foi especialmente santificada por esta fidelidade, por esta generosidade, uma generosidade oficial do Estado para Deus?
--Arcebispo Mpundu: Na realidade, não. Acredito que a Zâmbia seja um país como todos os países do mundo, amado por Deus, cristão ou não cristão. Ele não distingue nem discrimina. No que diz respeito à Igreja católica oficial na Zâmbia, a declaração da Zâmbia como nação cristã é algo com o que nós não coincidimos, pelo contrário, de alguma maneira, está errada e não é aconselhável.

--Por que não é aconselhável? O que há de ruim nesta declaração?
--Arcebispo Mpundu: Em primeiro lugar, tem que ver com os direitos constitucionais das pessoas. Se você declara um país cristão como parte da Constituição, então quem não é cristão está em desvantagem. Não preciso entrar em detalhes nas implicações de tal uma declaração. A revisão de 1996 da Constituição declarou a Zâmbia como nação cristã no preâmbulo e nós pensamos, e assim o dissemos, que estava errada. A Zâmbia deveria ser um Estado laico e não uma teocracia. Bem, governos sucessivos reafirmaram isto para os próprios interesses. Eles têm seus próprios interesses.

--Que interesses?
Arcebispo Mpundu: Estes interesses, em minha humilde opinião, e acredito que na opinião dos bispos católicos, são uma forma de tentar manipular os bispos católicos e a Igreja Católica.

--Como se pode manipular proclamando uma nação como cristã?
--Arcebispo Mpundu: Dando a impressão de ter uma relação com as igrejas cristãs e de apoiar às igrejas cristãs e, deste modo, adquirir seus votos, apoio, e nós pensamos que isto não está bom.

--E é assim por razões políticas?
Arcebispo Mpundu: Sim, trata-se de manobra política e, com o curso do tempo, foi provado que era assim, porque, infelizmente, durante este tempo, nos governos sucessivos ao presidente Frederick Chiluba, foi exumada uma montanha de corrupção. Não é que não houvera corrupção antes, mas deveria ter reduzido se, de verdade, o Estado é considerado "cristão". Claro que, um país não é cristão por uma declaração, embora esta declaração seja presidencial, ministerial, isso não significa que seja cristão ou não. É a forma, é a vida das pessoas. Para mim, para os bispos católicos da Zâmbia e para a maioria dos católicos, não é mais ou menos cristão devido àquela declaração, pelo que é uma declaração inútil. Não ajuda ninguém. Pelo contrário, põe o Cristianismo sob uma sombra ruim. "César" quer ser ao mesmo tempo padre, ser papa; aqueles que na história da Igreja, na história da religião, especialmente a religião judeu-cristã, quiseram ser profetas, sacerdotes e reis, terminaram sendo mais reis que profetas ou sacerdotes.

--A situação do país não é particularmente fácil; 51% da população vive com menos que um dólar por dia, fazendo da Zâmbia um dos países mais pobres no mundo. Qual é a razão disto, embora a Zâmbia seja rica em recursos? Tem o "cinturão do cobre". Por que a Zâmbia está economicamente atrasada?
--Arcebispo Mpundu: Agradeço por suscitar este tema. Para começar, você é muito generoso. Não é 51% mas 80%, uma estimativa conservadora e de curto prazo. Diria que 85% das pessoas da Zâmbia vive abaixo do limiar da pobreza. Por quê? Você mencionou isto em parte. Não é porque nós não temos recursos na Zâmbia; há recursos naturais, mas nas últimas quatro décadas, ou deste modo, infelizmente, embora tenhamos feito algum progresso, não foi bastante para beneficiar à maioria das pessoas. A maioria das pessoas é agora mais pobre que nos anos sessenta; e eu digo "os sessenta" porque eu os vivi.
Um das razões é a falta prioridades adequadas entre os líderes políticos. Por exemplo, a educação. A educação é a chave para o desenvolvimento. Justamente após a independência, a prioridade foi dada à educação. No entanto, o programa era algo como: "Mais é melhor". Mais jovens na escola não significa que se trata de uma educação de qualidade. Infelizmente, este foi infelizmente o caso.
Nós falamos de recursos naturais. Sim, o cobre é um deles, mas, infelizmente, o cobre também tem sido nossa maldição. Os políticos da primeira geração nos ensinaram, depois dos britânicos, que nós, os cidadãos da Zâmbia, éramos afortunados com uma "colher de cobre" na boca. Sim, isso era dito e se escutava, eu mesmo escutei isto. Como conseqüência, nossa economia na Zâmbia foi uma "mono-economia", dependendo do cobre, ano após ano.

--Sem desenvolver qualquer outro setor?
--Arcebispo Mpundu: Não se tomou esforço suficiente para diversificar a economia: por exemplo, o setor da indústria agrícola. Tivemos três ou quatro programas para fazer da agricultura a coluna principal de nossa economia, para tudo não foram determinadas mais que falsas aprovações. Uma foi conhecida como a "Reforma Agrária", durante o tempo de Kenneth Kaunda, a segunda foi a "Revolução Verde", logo vindo a "Operação Produção de Alimentos", logo "Volta à Terra". Não foi tudo bem planejado, nem se destinaram recursos suficientes ao setor e, conseqüentemente, ao fim, as pessoas não viram a agricultura um setor que implicasse numa atividade econômica lucrativa e, por isso, as pessoas não se dedicaram à, todavia, temos um montão de terra cultivável vazia. Da população de 12 milhões, cerca de cinco mora nas cidades e o resto está nas áreas rurais do país, que é maior que o Quênia.

--A Zâmbia tem a taxa de urbanização mais alta da África, verdade?
--Arcebispo Mpundu: Sim, de fato é dito que a Zâmbia, com mais de 45%, talvez 46%, das pessoas morando em cidades ou áreas urbanas, é um, se não o primeiro, dos países mais urbanizados na África.

--Mas dentro do contexto africano, a Zâmbia está indo bem economicamente. Tem inflação de um único dígito. Tem indicadores macroeconômicos que são positivos. Tem investimentos, que estão entrando. A inflação está abaixando. Estamos falando de um país que economicamente, pelo menos no papel, está indo bem e, todavia, ao mesmo tempo, em nossa conversa, e pelo que entendo, as reclamações de pobreza estão aumentando. Por que esta contradição? Onde está o problema?
--Arcebispo Mpundu: Permita-me esclarecer isto. Pra começar, esta era minha avaliação do segundo mandato do último presidente Mwanawasa. Houve um aumento enorme de confiança, da confiança dos investidores, como resultado de sua dedicação ao menos para reduzir a corrupção. Infelizmente, esta "injeção de investimentos" em nossa economia foi centrada novamente em apenas uma coisa. É minha avaliação pessoal. Por quê? Abriram-se mais minas, especialmente minas de cobre. Falou-se de um segundo "cinturão de cobra". A mineração de cobre tem trabalhado na Zâmbia nos últimos 67 anos. Chamávamos aquilo de cinturão de cobre. A província do cinturão do cobre. Agora então, sob Mwanawasa começaria um segundo cinturão de cobre no município no noroeste, em Solwezi. Se centrado em um único setor, você sabe quão volátil podem ser os preços do cobre. De 1973, com o embargo na produção de petróleo - especialmente por parte das nações árabes - a produção de cobre ficou muito cara. Então os preços do cobre caíram. Nove anos depois da independência, nossa economia começou a cair. Nunca nos recuperamos daquilo. Voltamos à mesma coisa. Tem-se prometido um montão de benefícios em curto prazo, com um montão de investimentos fluindo para a Zâmbia e prometendo abrir estas minas. Agora vem a crise econômica mundial, há um montão de demissões no cinturão de cobre agora mesmo, enquanto nós falamos. E aquelas minas que se iam abrir estão reduzindo em um número considerável. Demissões em todos lugares porque a produção relacionada com o cobre diminuiu.

--Ouvimos falar do desemprego nos Estados Unidos, do impacto na China, mas, na realidade, a história não contada nesta crise econômica, é que a África é o continente que está sofrendo mais com as consequências desta crise econômica.
--Arcebispo Mpundu: Isso está correto. Quando se encontra com 5.000 mineiros demitidos por semana na Zâmbia; supõe-se muito mais que um milhão no Estados Unidos, devido à proporção, mas isto tem acontecido nos últimos dois ou três meses e ninguém pode dizer quando parará. Acredito que isto ficará pior antes de começasse a melhorar. Esta é uma razão pela qual voltar a uma "mono-economia" e não investir bastante em agricultura, para fazê-la uma atividade mais vantajosa econômica para pessoas, é um grande erro.

--Eu tenho uma pergunta um pouco comprometedora para o senhor, já que os católicos superam os três milhões, dos doze que formam a população da Zâmbia. A educação católica é forte e tem presença. Não está desempenhando seu papel a corrupção neste problema do crescimento econômico? Se a corrupção está fazendo seu papel, onde falha a educação católica na hora de confrontar isto com os futuros líderes da sociedade da Zâmbia?
--Arcebispo Mpundu: Negar que nosso laicado católico está incluso na corrupção é enterrar a cabeça na areia como um avestruz. Posso lhe dar um exemplo. Um dia os bispos tiveram a honra e o privilégio de se encontrar com o antigo presidente Chiluba: "Olhe, senhor presidente, tem que fazer algo com a corrupção. Corrupção no governo. Corrupção na vida civil. Você, como presidente, tem que assumir a liderança. O governo deve tomar a liderança na reconstrução moral, principalmente no que se refere à corrupção". E o presidente Chiluba disse: "Obrigado. Corrupção! Não falem comigo. Falem com seus próprios católicos. 70% dos secretários permanentes são católicos. São os únicos que sabem como funciona o sistema". "Senhor presidente, isto não é um problema católico, é um problema nacional", respondemos.
Eu concordo com você, por outro lado temos dito nestes últimos anos que a Igreja na Zâmbia compartilha com os fiéis, e também com aqueles que não são membros da Igreja Católica, nosso tesouro mais escondido, que é a doutrina social da Igreja. Nossa gente está cada vez mais contente de que a Igreja tenha esta herança de doutrina, sobre como os seres humanos devem se relacionar uns com os outros, sobre temas de direitos humanos, da dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, e devemos fazer mais. Talvez deveríamos fazer muito mais. Agora estamos acordando. No setor educacional, asseguro, a Igreja Católica tem feito muito, infelizmente, como digo, por parte dos sucessivos governos, não têm sido destinados recursos suficientes ao setor educacional e não têm visto o quão importante é. Não se trata apenas de educação. É sobre educação de qualidade. Onde estão os recursos para aumentar as salas de aula, por exemplo, os laboratórios, o número de professores?

--Qual é o tamanho de uma sala de aula na Zâmbia? Na Europa ou Estados Unidos são 25 estudantes por classe.
--Arcebispo Mpundu: Essa é uma boa pergunta. Durante muito tempo tivemos sempre 40 por classe, mas dada a pressão com o passar dos anos, tem ido a 45 e agora é de 50. Aumentou-se a admissão, não há nenhum limite. "Que entrem mais crianças". Não há um limite de admissão, mas onde os põe? Não temos bastantes classes, laboratórios, nem professores. Se se tem muitos estudantes e não se tem bastantes professores... Tem-se visto que nas escolas secundárias, por exemplo, há entre 70 e 75 estudantes por professor. Pobre professor! São impossíveis de controlar. Quer preparar um exame, mas não é um exame que pode qualificar. Quer preparar sua lição, como fazer para ganhar a atenção deles? Mais é melhor? Não. Este é um exemplo.

--Mudemos de tema. Eu quero falar sobre os não cristãos, especialmente sobre a questão do Islã. Há uma islamização crescente, especialmente ao norte da Nigéria e em outros países africanos. Em Lusaka, há 10 anos havia uma mesquita, hoje acredito que há 10. É isto uma preocupação?
--Arcebispo Mpundu: Não sei se a palavra preocupação é a palavra correta. É um fato que o Islã está crescendo. Foi determinado, em um passado não tão distante, o que eu chamaria de uma campanha de proselitismo agressivo por parte dos muçulmanos; e pode-se ver isto nas ruas de Lusaka. Em uma escola islâmica instalada em Lusaka e em áreas rurais nos municípios centrais e orientais. Ao mesmo tempo, o que as pessoas esquecem é que as Igrejas cristãs também são crescentes. As Igrejas Católicas também aumentam, não só com uma paróquia, mas com várias paróquias que tiveram que se estabelecer nos últimos anos para servir melhor a nossos cristãos. O fato de que o islã esteja crescendo não é tanto motivo de preocupação quanto motivo de auto-exame para a igreja local. Que catequese temos dado de forma que nossa gente esteja devidamente formada em sua fé, para que não sejam abalados por isto ou por aquilo, porque igualmente fazemos frente às seitas?

--Chegaremos neste assunto, mas gostaria de voltar ao Islã. O senhor mencionou que é uma forma agressiva de islamização e há provas de que o dinheiro está vindo, por exemplo, da Arábia Saudita para a islamização da África. É este o caso da Zâmbia?
--Arcebispo Mpundu: Não sei. Não posso responder para eles e isto não é absolutamente algo novo. Eu, todos os anos, tenho várias tarefas para as missões. Tenho relações com algumas dioceses no Estados Unidos e Europa que nos ajudam em nossos programas pastorais. Não vejo por que o Islã, os muçulmanos, não farão a mesma coisa com seus irmãos e irmãs na Arábia Saudita, Barém ou Deus sabe onde... Não há qualquer coisa ruim nisto. Não me assusta, mas só me força a pensar: Que classe de formação na fé estamos dando a nossos cristãos de forma que eles estejam muito mais seguros em sua fé?

--E estão?
--Arcebispo Mpundu: Bem, não tanto quanto nós queríamos que estivessem. Estão, mas queríamos que estivessem muito mais seguros. As raízes da catequese não são tão profundas, não são suficientes. A Igreja é jovem, muito dinâmica, mas tem problemas como Igreja jovem na hora de "lançar os dentes". A fé não está suficientemente profunda para o que é nossa tarefa assegurar que nossa fé se enraíze. Nossa fé ilumina nossas práticas culturais e tradicionais, de forma que estas práticas culturais e tradições fiquem ricas pela luz da fé e ambos se entrelacem, de um modo tão maravilhoso dentro de nós que tornemos verdadeiramente cristãos africanos.

--Tem esperança nos jovens?
--Arcebispo Mpundu: Os jovens me dão muita esperança. Por exemplo, quando se trata de vocações, na arquidiocese de Lusaka, tenho 70 jovens no seminário maior e não tenho dinheiro suficiente para pagar a permanência deles no seminário; e esta é uma tragédia. Perdi alguns porque não consegui que estivessem todos no seminário. Primeiro porque não tenho dinheiro suficiente como Igreja local e, segundo, que também são dadas a nós cotas de nível nacional, como no ano de preparação. Eu só posso ter lá cinco estudantes, mas se tenho 15, bem, 10 podem esperar pelo próximo ano. Alguns têm pouca paciência para esperar, por isso tentamos achar modos e meios para os manter ocupados enquanto esperarem sua troca para ir para ao seminário maior. Estes são jovens que querem tornar-se sacerdotes e estão, principalmente, nas escolas secundárias ordinárias, onde lhes fazem piadas, onde são ridicularizados por tornarem-se sacerdotes, e ainda assim dizem: "Apesar de tudo, queremos ser os sacerdotes".

[Esta entrevista foi realizada por Mark Riedemann para "Deus Chora na Terra", um programa rádio televisivo semanal feito por Catholic Radio and Television Network (CRTN) em colaboração com a organização Ajuda à Igreja que Sofre.]
Mais informação em http://www.ain-e.org/, http://www.aischile.cl/

sábado, 5 de junho de 2010

Dia Mundial do Ambiente


Comemorado a 5 de Junho, o Dia Mundial do Ambiente é um dos principais veículos através dos quais as Nações Unidas estimulam a consciencialização mundial do meio ambiente e reforçam a atenção política e de acção. Este foi o primeiro passo para que em todo o mundo, governos, instituições e cidadãos, passassem a ter uma maior consideração para as questões ambientais.

Sob o tema “Muitas espécies. Um Planeta. Um Futuro”, o Dia Mundial do Ambiente 2010 pretende evidenciar a importância da riqueza global de espécies e ecossistemas para a humanidade apoiando assim o Ano Internacional da Biodiversidade.

O Ruanda será o país anfitrião global do Dia Mundial do Ambiente 2010, onde irá decorrer um conjunto de eventos, de 3 a 5 de Junho, culminando na cerimónia Kwita Izina para dar nomes a bebés gorilas.

Em Portugal a data será também assinalada com algumas actividades que apelam à participação da sociedade civil e da comunidade científica.

O Dia Mundial do Ambiente é comemorado desde 1972, quando foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, para marcar o início da Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano.

Ano Internacional da Biodiversidade

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o ano de 2010 como Ano Internacional da Biodiversidade, com o objectivo de aumentar a consciência sobre a importância da preservação da biodiversidade em todo o mundo.

A Secretaria da Convenção sobre a Diversidade Biológica foi designada pela ONU, como coordenadora das acções do Ano Internacional da Biodiversidade 2010.

Estabelecida durante a realização da Cimeira da Terra, no Rio de Janeiro em 1992 (Eco/92), a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) é depositária de um tratado internacional para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, com o intuito de promover a partilha dos muitos benefícios advindos da biodiversidade. Com 191 países membros signatários integrantes, a CDB goza de uma adesão quase total na comunidade das nações.

Para o Ano Internacional da Biodiversidade, está previsto um conjunto de políticas a nível nacional, comunitário e europeu. Segundo a Agência Europeia do Ambiente (AEA), as várias políticas incidem em medidas de protecção específicas para espécies e habitats importantes.

Biodiversidade

A biodiversidade engloba a variedade de genes, espécies e ecossistemas que constituem a vida no planeta. Assiste-se a uma perda constante deste conjunto, com extinções e destruições com profundas consequências para o mundo natural e o bem-estar humano.

As principais causas são as alterações nos habitats naturais, resultantes dos sistemas intensivos de produção agrícola, da construção, da exploração de pedreiras, da sobrexploração das florestas, oceanos, rios, lagos e solos, da poluição e, cada vez mais, das alterações climáticas globais.
Os Estados membros da União Europeia ficarão com a responsabilidade de estabelecer uma ambiciosa abordagem política do Plano de Acção com uma proposta de medidas concretas. Os principais objectivos do plano de acção a nível internacional visam reforçar a importância de conservar a biodiversidade tanto para o bem-estar do Homem como para o desenvolvimento da economia e consciencializar o maior número de pessoas possível.

Em Setembro de 2010 terá lugar uma Assembleia Geral das Nações Unidas tendo por tema precisamente a biodiversidade.

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