terça-feira, 28 de julho de 2009

Plataforma por Darfur lembra drama por resolver


A Plataforma por Darfur, promove no próximo dia 28 de Julho uma Mesa-Redonda na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, seguida de uma acção de rua, com concentração no Rossio. As iniciativas decorrem, respectivamente, pelas 17h00 e as 18h30.

Na mesa-redonda estarão o Pe. Feliz, missionário Comboniano, português, que trabalha no Darfur - Nyala - desde 2006 e o jornalista Paulo Moura, que visitou o território.

Segundo os promotores da iniciativa, o objectivo é manter o tema na actualidade, junto da opinião pública, lembrando o drama humanitário no Darfur e dando a conhecer os projectos que estão a decorrer no terreno.

A Plataforma por Darfur, associação nacional que trabalha, desde Agosto de 2007 para a sensibilização da sociedade civil em torno ao conflito na região sudanesa, integra instituições como a Amnistia Internacional, os Missionários Combonianos, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, a Fundação Gonçalo da Silveira, a Antena Fé Justiça Europa-África, Comissão de Justiça e Paz dos Institutos Religiosos ou Mãos Unidas Padre Damião.

Para o projecto “Uma escola para Nyala”, da campanha por Darfur, a plataforma (http://www.pordarfur.org/) já enviou mais de 75 mil Euros.

A situação no terreno fica marcada, nos últimos tempos, pela tensão entre o Sudão e o Chade, com o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, a pedir que os dois Estados trabalhem juntos para a estabilidade na região.

O conflito que desde Fevereiro de 2003 se arrasta no Darfur, região ocidental do Sudão, é descrito pela ONU como uma das piores crises humanas de sempre, afectando cerca de 3,6 milhões de pessoas. Os confrontos entre grupos rebeldes, forças de segurança e as milícias «Janjaweed» continuam por controlar. Aldeias inteiras foram arrasadas e centenas de milhares de pessoas já perderam a idade.

O número de deslocados no interior do país ronda os 1,9 milhões de pessoas, que procuram os acampamentos em busca de segurança e de um mínimo de condições para sobreviver.

Lamento zaghawa
Os assaltantes levaram os jovens
E ceifaram-nos.
Os assaltantes levaram os velhos
E ceifaram-nos
Os assaltantes levaram as mulheres
E ceifaram-nas.
Os assaltantes levaram as crianças
E ceifaram-nas.
Não temos casa,
Foi ceifada.
Não temos cereais,
Foram ceifados.
Não temos leite,
Foi ceifado.
Agora os nossos filhos partiram para lutar,
Serão ceifados.
(Halima Bashir e Damien Lweis, «Lágrimas do Darfur»)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Darfur contado por quem conhece o terreno


Convite


A Plataforma por Darfur convidam.no/a a participar numa mesa redonda sobre o drama que continua a viver-se no Darfur, Sudão.

Esta mesa redonda contará com a presença do P. Feliz Martins, Missionário Comboniano, no Darfur desde 2006, e com o testemunho do jornalista Paulo Moura que visitou no território. Dois testemunhos em primeira pessoa para compreender melhor este drama humanitário.

Este evento terá lugar no dia 28 de Julho às 17 horas, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, em Lisboa (ao lado da Igreja de S. Domingos, ao Rossio).

Segue-se depois uma concentração na praça do Rossio.

A Plataforma Por Darfur é constituída por:

Antena Fé e Justiça Europa-África
Amnistia Internacional
Missionários Combonianos
Comissão Justiça e Paz dos Institutos Religiosos
Fundação Gonçalo da Silveira
Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
Associação Mãos Unidas P. Damião



Participa e faz ouvir a tua voz!

sábado, 18 de julho de 2009

ENTREGA DE PRÉMIOS DO DEL-8 MOSTRA ALUNOS EMPENHADOS NOS ODM


É com alegria que faço eco do sucesso do concurso Del-8, que a ONGD Ad Gentes, dos Leigos da Consolata promoveu de Setembro de 2008 a 8 Julho de 2009.
A Cerimónia de Entrega dos Prémios decorreu no Auditório do Instituto Português da Juventude, no Parque das Nações, no passado dia 8 de Julho, perante uma plateia de cerca de 140 pessoas, entre alunos, pais, personalidades, convidados, parceiros e patrocinadores deste concurso Del-8, que levou os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio às escolas secundárias de Portugal, de norte a sul, do continente às ilhas da Madeira e dos Açores.
A apresentação da cerimónia esteve a cargo da jornalista Maria João Silveira, da RTP, com a colaboração de várias pessoas amigas dos Leigos Missionários da Consolata, que presentearam os convidados com um fim de tarde de espectáculo, boa disposição, solidariedade e entrega de valiosos prémios aos estudantes do 12ºano, que durante este ano lectivo trabalharam afincadamente para divulgar os ODM nas suas escolas, casas, localidades e comunidades em geral. De salientar, que alguns dos grupos de estudantes, conseguiram inclusivamente recolher fundos e bens para enviar às irmãs da Consolata e à aldeia de Empada, na Guiné-Bissau, que serviu de base ao trabalho dos alunos.
Os melhores trabalhos DEL-8 foram premiados por um júri constituído por personalidades como o Dr. Carlos Zorrinho, Coordenador do Plano Tecnológico; o Dr. Fernando Nobre, presidente e fundador da AMI, o Dr. Constantino Costa, embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, a Dra. Maria João Brilhante, directora do Teatro Nacional D. Maria II, o Padre Norberto Louro, provincial dos Missionários da Consolata, entre vários especialistas universitários, dos mass media, etc.
O prémio para o vencedor da categoria Concretização dos ODM foi para o Colégio Santa Doroteia, Lisboa e foram 6 viagens a um país africano em Agosto 2009, para poderem implementar junto da população infantil o projecto vencedor “um DVD vídeo sobre a igualdade do género – ODM nº3”.
Os vencedores da categoria página Web foram os alunos da Escola Secundária do Entroncamento, que criaram uma página bilingue e com animações multimédia - que pode ser visualizada através do site http://www.del8.com/ - e ganharam computadores portáteis.
Na categoria Artes, os vencedores vieram da Escola Secundária D. Pedro I, Alcobaça e criaram 8 belíssimos marcadores de livro, que foram premiados com máquinas fotográficas de última geração.
Na categoria Vídeo, os vencedores foram alunos do Colégio Santa Doroteia em Lisboa e fizeram um documentário com famílias africanas que vivem nas periferias das grandes cidades, tendo levado para casa, câmaras de filmar como prémios.
Na categoria Produção Escrita, foram premiados os alunos do Colégio Miramar, de Mafra, com um belíssimo texto, o Manifesto Anti-Pobreza, que lhes permitiu ganhar computadores portáteis.
As escolas vencedoras das 5 categorias, receberam ainda 5 projectores para uso em sala de aula, através dos seus directores, que elogiaram o espírito edificador e solidário do Del-8.
As entidades parceiras da Ad Gentes, foram os Missionários(as) da Consolata, o Instituto Português da Juventude, a Fundação Gonçalo da Silveira, a Antena AEFJN Portugal e a Universidade de Manchester.
Na opinião de várias pessoas presentes na cerimónia, o resultado não podia ter sido mais nobre – jovens, criatividade, novas tecnologias, envolvimento com as localidades, trabalhos ao serviço do bem comum - um dos projectos mais bem-sucedidos de divulgação dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), já feitos a nível nacional, com trabalhos de 126 escolas secundárias e mais de 1200 alunos a afirmar queremos “apagar a Pobreza com os Objectivos do Milénio”. Delete aos 8 Objectivos do Milénio.
Para mais informações visite www.del8.com onde se encontram todas as informações e os nomes dos vencedores nacionais.

Ricardo Santos

quinta-feira, 16 de julho de 2009

G8 – A oportunidade perdida ou a esperança num futuro melhor?


A cimeira do G8 talvez seja uma oportunidade perdida para as comunidades pobres. A reunião de L’Aquila tinha todas as condições para que os países mais ricos pudessem assumir um importante compromisso para resolver o problema da pobreza mundial e que traduzisse o impulso do acordo conseguido no final de 2008 em Copenhaga. Apesar de ficar longe das expectativas inicialmente previstas, o encontro do G8 trouxe sinais de esperança para o futuro, com pequenos passos que foram dados para selar acordos determinantes em matérias sensíveis como as alterações climáticas e a segurança alimentar. As anteriores promessas relativamente aos níveis de ajuda e às metas na saúde voltaram a estar em cima da mesa das negociações, mas desta vez sem a urgência que era requerida e sem um plano mensurável para a sua concretização. O G8 sofre de uma doença anacrónica porque países observadores como a China e a Índia têm um peso no cenário internacional muito superior a alguns dos actuais membros como Itália ou Canadá. A próxima cimeira do G8 será determinante para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Em 2010 assinala-se dez anos após a celebração do Jubileu de 2000, cinco anos depois do movimento da sociedade civil Make Poverty History e apenas cinco anos para se alcançar as metas do Milénio e reduzir para metade a pobreza extrema. Das conclusões da reunião do G8 destacam-se cinco áreas de vital importância para a melhoria do nível de vida das populações que se encontram no fosso da pobreza extrema.

1. Alterações Climáticas
Na sequência das negociações de Copenhaga os líderes do G8 comprometeram-se a manter o aumento da temperatura abaixo dos 2 graus. Para isso é necessário reduzir as emissões de carbono em mais de 80% dos níveis actuais até 2050, de forma a se alcançar os valores registados em 1990. A aceitação destas metas pela Administração Obama representa uma significativa viragem na política ambiental norte-americana que nunca ratificou o Protocolo de Quioto. No entanto faltou vontade política para definir metas intermédias que garantam uma monitorização do processo e uma convergência com os Objectivos do Milénio. Não houve acordo quanto ao financiamento para aumentar a Ajuda Pública ao Desenvolvimento num pacote autónomo aos 0,7% do Rendimento Nacional Bruto consignado na Declaração do Milénio e que permita aos países em desenvolvimento a adopção de políticas sustentáveis para reduzir as emissões de carbono. Paralelamente à cimeira do G8, o discurso de Obama no Fórum Económico constitui um forte apelo aos Ministros das Finanças para que voltem à mesa das negociações durante o encontro do G20 em Setembro e tragam propostas concretas para ajudar os países pobres na resposta às alterações climáticas. Estudos independentes mostram que nos últimos dez anos os desastres naturais causados pelo aquecimento global do planeta provocaram mais de 500.000 mortes e afectaram a vida de 2,5 biliões de pessoas, implicando um custo estimado de mais de 450 biliões de euros em perdas económicas.

2. Água e Saneamento
Os líderes do G8 tinham sido desafiados a construir um quadro global de acção para inverter a actual crise relativa à falta de água e saneamento que assola as populações em África e que se traduz num rácio de uma em cada oito pessoas que não tem acesso a água potável e mais de 2,5 biliões de seres humanos que estão privados de uma casa de banho e de saneamento básico. Apesar do forte compromisso em matérias relacionadas com a saúde, os líderes do G8 foram incapazes de reconhecer que a diarreia é o segundo factor causador da mortalidade infantil até aos cinco anos e que a água e o saneamento são condições determinantes para cumprir as metas em termos de saúde materna e infantil e em outras questões periféricas como a educação e as migrações forçadas que afectam as populações mais pobres e vulneráveis do planeta. As conclusões da cimeira resumiram-se a vagas intenções sem a definição de uma agenda estratégica e à ausência de uma forte vontade política em corrigir injustiças que se colocam ao nível dos direitos humanos mais elementares.

3. Governação e Corrupção
O apelo para a ratificação da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção (UNCAC) constitui um dos pontos altos da cimeira, mas enquanto a Itália, Alemanha e Japão não ratificarem o acordo, a mensagem transmitida aos países emergentes é “façam o que dizemos, mas não o que fazemos”. A UNCAC constitui uma das poucas ferramentas globais que obriga os Estados-membros da ONU a combater a corrupção. Sem a ratificação do documento é impossível uma acção consertada para reduzir os paraísos fiscais e detectar branqueamento de capitais na origem. Os G8 apelaram para a implementação de um mecanismo mais eficaz e transparente que permita a revisão da Convenção e a converta numa verdadeira task force global. Neste processo de prestação de contas, torna-se vital a participação da sociedade civil e de organismos independentes e tecnicamente credíveis para monitorizar a corrupção nos diferentes países, invertendo a actual realidade de políticas ineficazes e leis fragmentadas de combate ao tráfico de droga e ao crime organizado em cada contexto nacional.

4. Segurança Alimentar
O novo compromisso para mobilizar 20 biliões de dólares nos próximos três anos constitui o ponto mais alto das conclusões da cimeira do G8. Apesar da grandeza dos montantes envolvidos, os doadores deveriam ir mais longe e aumentar a ajuda anual até 30 biliões de dólares, de forma a permitir que os pequenos agricultores dos países em desenvolvimento possam produzir ou comprar bens alimentares suficientemente nutritivos e resistir aos períodos de seca, inundações ou flutuação dos preços dos alimentos. Os doadores deverão assegurar a reforma de algumas instituições, garantindo que a ajuda internacional seja permanentemente monitorizada e aplicada através de políticas locais sustentadas que envolvam a boa gestão dos recursos hídricos, energia e infra-estruturas, como complemento de medidas que abrangem a protecção social, a agricultura, a nutrição, a redução do risco de desastre e a adaptação às mudanças do clima. Actualmente uma em cada seis pessoas é vítima da fome ou da subnutrição.

5. VIH/SIDA
As novas promessas de acesso universal à prevenção e tratamento do VIH/SIDA, malária e tuberculose deveriam ser consubstanciadas com um plano de acção que incluísse uma grelha detalhada de distribuição da ajuda e a introdução de políticas inovadoras que permitissem o reforço dos sistemas de saúde e novas formas de combate às doenças endémicas, através da investigação científica, educação e outras medidas estruturais.
Um mundo sem pobreza extrema pode continuar a ser uma utopia, mas enquanto for possível tentar temos a certeza de que o mundo será sempre melhor.
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João Pedro Martins
Coordenador Nacional
Desafio MIQUEIAS - MICAH Challenge Portugal
Correspondência: Apartado 8225, 1803-001 Lisboa
Sítio web: http://www.desafiomiqueias.com/
E-mail: desafio.miqueias@gmail.com

terça-feira, 14 de julho de 2009

Ser cristão num mundo globalizado e em crise



Bento XVI publicou a sua terceira encíclica dedicada ao desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade: "Caritas in veritate".
É uma reflexão profunda que apresenta a Doutrina da Social da Igreja, tendo como base a encíclica de Paulo VI: "Populorum progressio" (1967) e a sua noção de desenvolvimento do "Homem todo e todo o homem".
O contexto actual da globalização e da crise económico-financeira justificam uma reflexão nova que nasce da fé e da razão dum Pastor com coração e solicitude universal.
Como homem de fé, Bento XVI, alerta para os perigos dum humanismo sem Deus, nem referência ao "mais" da transcendência: "Um humanismo que exclui Deus é um humanismo desumano. (...) O amor de Deus chama-nos a sair daquilo que é limitado e não definitivo, dá-nos coragem de agir continuando a procurar o bem de todos" (nº78). Quem perde o sentido de Deus, facilmente cai no relativismo, no laicismo e na idolatria da técnica e da ciência. Por outro lado, o fundamentalismo ou expressões religiosas que negam o valor da criação alienam-nos da construção do bem comum. Só a caridade na verdade, que nasce da fé no Deus Trindade, nos pode ajudar a superar a visão materialista da realidade e a reconhecer no outro um irmão, membro da mesma família que chama a Deus: Pai-Nosso (cf. nº71, 79).
O Papa, convida-nos ao discernimento guiado pela razão, pois o desenvolvimento integral e universal é uma vocação que exige uma boa fundamentação ética, uma análise interdisciplinar e uma participação responsável de todos. "O actual quadro do desenvolvimento é policêntrico" e devemos libertar-nos das "ideologias que o simplificam" (nº22). Daí a importância da formação e da educação para o desenvolvimento e a sensibilidade para o bem comum, baseados na caridade e na verdade. "A sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos" (nº 19).
O desenvolvimento deve ser integral e universal, inclusivo e participativo, subsidiário e solidário, justo e amigo do bem comum, ecológico e sustentável, fundado no amor e na verdade. Por outro lado, Bento XVI identifica algumas opções que não contribuem para o desenvolvimento e que enumero sumariamente: o assistencialismo e a dependência, a exclusão e o monopólio, a exploração e especulação, a ilegalidade e a corrupção, a falta de transparência e o autoritarismo, a violência e a procura desenfreada do lucro, as políticas contra a vida e o meio ambiente, as relações desiguais por motivos culturais, religiosos, de poder ou tecnológico.
Como membro de uma organização missionária (Rede Fé e Justiça Europa-África - AEFJN) que procura mais justiça nas relações entre a Europa e a África, gostei de ler que a doutrina social da Igreja é um elemento essencial da evangelização: "O testemunho da caridade de Cristo através de obras de justiça, paz e desenvolvimento faz parte da evangelização, pois a Jesus Cristo que nos ama, interessa o homem inteiro." (nº 15)
A encíclica aprofunda temas como a globalização, o mercado, o ambiente e a técnica: "É preciso empenhar-se sem cessar por favorecer uma orientação cultural personalista e comunitária, aberta á transcendência, do processo de integração mundial" (nº 42).
O ser humano, presente e futuro, é o centro de todas estas reflexões: "Nas intervenções em prol do desenvolvimento, há que salvaguardar o princípio da centralidade da pessoa humana, que é o sujeito que primariamente deve assumir o dever do desenvolvimento" (nº47). Por isso, o Papa preocupa-se com as desigualdades entre pessoas e povos, as migrações e o desemprego, o turismo e exploração sexual, a falta de respeito pelos direitos humanos, a deslocação de empresas, as formas de participação da sociedade civil, a regulação nacional e internacional do mercado, a interacção das culturas e a paz, a fome e a pobreza, o acesso à água e à educação, o respeito pela vida e pela liberdade, a bioética, a finança ética e o microcrédito, os meios de comunicação social e a democracia económica.
A cooperação e ajuda internacional têm neste documento critérios e análises fundamentais para uma reflexão e avaliação das práticas dos Estados, empresas e organizações não governamentais (cf. nº 47, 57-60).
Termino, citando um parágrafo com o qual a AEFJN se identifica totalmente: "Sente-se a urgência de encontrar formas inovadoras para actuar o princípio da responsabilidade de proteger e para atribuir às nações mais pobres uma voz nas decisões comuns" (nº 67).
José Augusto Duarte Leitão, svd, Responsável da AEFJN Portugal

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Novas formas de escravidão: tráfico sexual


ROMA, Domingo, 5 de julho de 2009 (ZENIT.org).- O Vaticano e diferentes organizações religiosas têm trabalhado ativamente há muito tempo no combate ao tráfico de pessoas. Uma mensagem de apoio recente enviada por Bento XVI em uma reunião sobre o tema, realizada em Roma em junho, reiterou que esta é uma prioridade da Igreja.
O pontífice disse que é importante conduzir a "uma consciência renovada do valor inestimável da vida e a um empenho cada vez mais corajoso na defesa dos direitos humanos e à superação de todo o tipo de abuso”.
A questão também está sendo debatida na Inglaterra. Em Junho, o Instituto Cristão advertiu sobre alterações significativas à legislação em matéria de prostituição na Inglaterra e no País de Gales. As mudanças são especialmente realizadas para lidar com o problema do tráfico sexual.
As propostas, que ainda vão ser votadas pelo Parlamento, contemplam que a compra de serviços sexuais seria como cometer um delito, se o sexo for comprado de uma prostituta que foi submetida à força, fraude ou ameaça.
O conceito de força poderia incluir a coerção por meios psicológicos, implicando alguém que explora determinada vulnerabilidade. O Instituto Cristão disse que se trataria de um delito de responsabilidade, o que significa que o cliente poderia ser culpado, independentemente de saber se a prostituta fora submetida a força ou não.
O Instituto afirma que é impossível saber exactamente quantas são as prostitutas que trabalham no Reino Unido. No entanto, muitos apontam o número de 80 mil. Entre as estimativas, uma de 2008 assinala que cerca de 18 mil mulheres, incluindo meninas de até 14 anos, foram traficadas para bordéis do Reino Unido.
Problema mundial
Em 16 de Junho, o Departamento de Estado dos Estados Unidos publicou seu relatório anual "Trafficking in Persons Report" para 2009. O relatório concluiu que o tráfico sexual inclui uma parcela significativa do total de tráfico de seres humanos.
Há uma variedade de maneiras pelas quais as mulheres são obrigadas a participar do comércio sexual, o relatório observou. Pode acontecer através de coação, engano, dívida ou servidão. Muitas vezes, as mulheres e meninas são obrigadas a continuar na prostituição através da pressão por uma suposta "dívida", contraída através do seu transporte para um país ocidental.
O relatório citou dados do UNICEF que apontam que dois milhões de crianças são submetidas à prostituição no comércio sexual mundial.
O Departamento de Estado observou que o tráfico sexual tem consequências devastadoras para as menores, incluindo doenças de longa duração, tanto físicas quanto psicológicas. Infecções por doenças sexuais, dependência de drogas e a exclusão social também são comuns.
Crime hediondo
Um livro recente, publicado no início deste ano, analisou a questão do tráfico de seres humanos a partir de um ponto de vista económico. O livro é "Tráfico sexual: Dentro do negócio da escravatura moderna" (Columbia University Press), de Siddharth Kara. O autor foi um investidor bancário antes de colocar de lado sua carreira empresarial para se envolver nos esforços para abolir a escravidão humana.
Embora desapaixonado em sua análise económica no comércio de pessoas, Kara é claro em seu julgamento ético sobre o tema: "tráfico sexual é um crime hediondo contra a humanidade", declara no início de seu livro.
Kara descreve como a aquisição de escravas sexuais se dá através de uma variedade de maneiras. Algumas são enganadas por falsas promessas, outras são vendidas por seus pais. A sedução é outro método, e algumas delas são recrutadas por antigas escravas.
Em alguns países, casamentos falsos oferecem uma maneira comum para atrair jovens mulheres que procuram uma forma de obter os direitos legais e aceitação social. Os traficantes também tiram vantagem das multidões que se encontram confinadas em campos de refugiados, onde qualquer oferta de fuga parece uma alternativa atraente.
Kara apresenta testemunhos, muitas vezes gráficos, que mostram como o processo de conversão de mulheres em escravas sexuais envolve métodos como estupros, tortura, humilhações e uso de drogas. A intenção é fazer com que as mulheres sejam completamente submissas e, portanto, atraentes para os potenciais compradores.
A indústria do tráfico sexual, conclui Kara, envolve a violação sistemática, a tortura, a escravidão e o assassinato de milhões de mulheres e crianças, quer seja através de homicídio, doenças sexualmente transmissíveis ou drogas.
Análise económica
Kara calcula que o número anual total de pessoas traficadas para exploração sexual comercial é entre 500 mil e 600 mil. Os números exactos, ele admite, são difíceis de estabelecer. O Departamento de Estado dos Estados Unidos estima que o número total de pessoas traficadas internacionalmente é entre 600 mil e 800 mil. Este número não inclui os milhões de pessoas que são traficadas internamente.
Em relação aos lucros obtidos com todas as formas de escravidão humana, não apenas sexual, Kara assinala o valor apontado pelo Departamento de Estado dos EUA, de 9,5 bilhões de dólares por ano. A Organização Internacional do Trabalho estima que seja em torno de 31,7 bilhões.
Kara analisa estatísticas e calcula que em 2007 a venda no tráfico de escravas sexuais para proprietários de bordéis e casas de alterne gerou receitas de cerca de 1 bilhão de dólares, o que representa cerca de 1.895 dólares por escravo. Descontados os custos, essas vendas geraram aproximadamente 600 milhões de dólares em lucros, ele calcula.
Em uma base global ele estima que, em 2007, a receita total gerada por todas as formas de tráfico de seres humanos atingiu nada menos que 152 bilhões de dólares, com lucros de 91 bilhões. A forma mais rentável de tráfico de seres humanos foi a relacionada com a indústria do sexo. Enquanto esse sector representava apenas 4,2% do consumo mundial de escravos, gerou 39% dos lucros.
Os lucros de tal actividade têm atraído grupos criminosos desde o nível local até organizações internacionais, ele explicou. As máfias internacionais que operam na África, Ásia e na Europa Oriental têm a cooperação de organizações criminosas nacionais para a exploração das vítimas.
Como podemos explicar tal comércio de vidas humanas, Kara pergunta. Do lado da oferta, podemos olhar para factores que vão desde a pobreza, anarquia, conflitos militares e problemas económicos. A transição pós-1989 e a integração global também desempenharam um papel na facilitação do comércio de seres humanas.
Do lado da demanda, Kara salientou que a maioria dos homens não tolera a vulgaridade associada com o comércio sexual. Mas a redução dos preços de sexo comercial, devido a uma maior oferta, aumentou a procura: "a escravidão sexual é atingir o máximo lucro da prostituição", argumentou.
Vizinhos
A “Gaudium et Spes”, do Concílio Vaticano II , menciona o problema do tráfico de seres humanos. O Concílio lembra nossa obrigação de ser próximos de cada pessoa e pedir a todos ajuda para aqueles que são abandonados ou sofredores.
Abusos, como os da escravidão humana e da prostituição, foram descritos como uma violação da dignidade humana. Tratar os seres humanos como "como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis” é uma infâmia, e isso envenena a sociedade humana (n º 27).
Mais recentemente, o arcebispo Agostino Marchetto, secretário do Conselho Pontifício de Pastoral para os Migrantes e Itinerantes, falou durante um fórum realizado em Viena, em Fevereiro de 2008, sobre o tema do tráfico de seres humanos.
Não existem soluções fáceis, ele admitiu. Lidar com estes abusos dos direitos humanos exige uma abordagem que não só leva em conta os melhores interesses da vítima, mas também a punição justa para aqueles que dela se beneficiam.
Ele também recomendou a introdução de medidas preventivas, tais como a sensibilização do público para o problema. Também é necessário lidar com as causas do fenómeno, incluindo os factores económicos envolvidos, concluiu. Não é um assunto fácil, de fato, mas as respostas correctas podem afectar positivamente milhões de vidas que estão em jogo.

Por pe. John Flynn, LC

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A Santa Sé pede uma via de desenvolvimento sustentável para os países pobres


NOVA YORK, quarta-feira, 1º de Julho de 2009 (ZENIT.org).- É necessário encontrar uma via de desenvolvimento para os países pobres.
Afirmou o observador permanente da Santa Sé na Sede da ONU em Nova York, o arcebispo Celestino Migliore, em sua intervenção em 26 de Junho passado ante a Conferência sobre a crise financeira e económica mundial e seu impacto sobre o desenvolvimento, segundo informa L’Osservatore Romano em sua edição diária em italiano desta quarta-feira.
O representante vaticano disse que não se deve esquecer que “são os pobres, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento, que sofrem mais e são menos capazes de defender-se do impacto desta crise”.
Recordou que a perda de postos de trabalho nos países desenvolvidos e a carência de acesso a um emprego, ao alimento, à assistência de saúde de base e às estruturas educativas nos países em vias de desenvolvimento, “são uma triste realidade quotidiana”.
O observador permanente citou dados do Banco Mundial que estimam que outros 55-90 milhões de pessoas se encontrarão em situação de pobreza extrema em 2009, especialmente mulheres e crianças.
E teme-se que este ano o número de pessoas que sofrem fome crónica supere o número de um bilião.
Portanto, para a Santa Sé, “está em primeiro lugar o forte compromisso moral de enfrentar estas disparidades sociais e económicas que estão se acentuando e que mi nam a dignidade fundamental de muitos habitantes da terra”.
Ao mesmo tempo, recordou, as instituições da Igreja aproveitaram esta conjuntura para promover novas estruturas de solidariedade e para animar uma nova orientação dos sistemas financeiros para os princípios da justiça, da solidariedade e da subsidiariedade.
Dada a vulnerabilidade de muitos pobres do mundo, o observador vaticano disse apoiar “propostas avançadas através de medidas de estabilização a curto prazo” e “medidas a longo prazo para assegurar os fluxos financeiros sustentáveis e reduzir as possibilidades de uma nova crise”.
Disse que as medidas a curto prazo devem ser concentradas nos meios capazes de dar uma ajuda tangível às pessoas mais necessitadas.
As medidas a longo prazo deverão centrar-se em ações que mantenham a sustentabilidade, assinalou.
O representante vaticano avaliou positivamente os compromissos assumidos na reunião do G20 em Londres mas lamentou que só uma pequena parte desta ajuda foi destinada aos países em vias de desenvolvimento mais pobres.
Portanto, disse, “ainda é fundamental destinar uma ajuda financeira adequada a estes países”.
Consciente da dimensão humana e social desta crise global, afirmou apoiar “as medidas encaminhadas a reforçar a segurança alimentar, o apoio dos gastos sociais e, em geral, um gasto público que ponha as pessoas no centro”.
Acrescentou que a crise não deve servir de pretexto para se esquecer as questões preocupantes e os compromissos assumidos.
Recordou que na Conferência de Doha destacou-se “a importância de reafirmar o princípio de um desenvolvimento financeiro sustentável e de assegurar uma via de desenvolvimento sustentável para todos os países em vias de desenvolvimento”.
Concretamente, “a eliminação dos subsídios às exportações agrícolas é uma medida que pode supor notáveis benefícios aos países em vias de desenvolvimento muito pobres”, disse.
Apoiou uma regulamentação que permita a transparência global e previna a repetição desta crise no futuro.
Sublinhou que “na base da atual crise económica está uma ideologia que põe o indivíduo e os desejos individuais no centro de todas as decisões económicas”.
“Esta visão do mundo criou uma sociedade na qual os benefícios económicos e pessoais a curto prazo se realizam a custa dos outros e têm o efeito de produzir um individualismo que não reconhece os direitos e as responsabilidades compartilhadas, necessários para criar uma sociedade que respeite a dignidade de todas as pessoas”, declarou.
Destacou a necessidade de “dar prioridade aos países mais pobres neste tempo de crise e de adoptar um enfoque ético no campo económico por parte de todos que actuam nos mercados internacionais, no âmbito político por parte de todos que desempenham uma função pública, e permitir uma participação que inclua todos os membros da sociedade civil”.
E concluiu: “Só adoptando semelhante enfoque será possível realizar uma solidariedade global autêntica”.

(Zenit, Por Nieves San Martín)